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CONDOMÍNIOS HUMANIZADOS:

Condomínios edifícios, sejam eles, horizontal ou vertical, loteamentos, associações, multipropriedades, são espaços coletivos de interesse social privado, ou seja, pessoas que escolhem morar ou trabalhar em determinado espaço privativo com áreas de convivência compartilhadas.

Alguns condomínios, nos últimos anos, ganharam contornos de verdadeiras CIDADES, diante da complexidade de serviços neles introduzidos e o volume de recursos geridos, reunindo milhares de pessoas e impactando na vida coletiva e no meio ambiente.

Por muito tempo e, ainda hoje, esses espaços urbanos são administrados de maneira amadora e voluntária, via processo eleitoral, onde se escolhem moradores ou condôminos para exercerem a sindicatura, um processo de fiscalização e regulação interna.

De acordo com o Código Civil vigente, o síndico pode ser morador ou um terceiro – pessoa física ou jurídica que, durante um determinado período do seu mandato, entre 12 a 24 meses, exercerá um conjunto de atribuições, onde se destacam dois grandes papéis: o da representação dos interesses do condomínio perante a sociedade e a direção da gestão de toda a estrutura edilícia, seus processos de trabalhos estabelecidos, dos processos de inter-relacionamento dos diversos sistemas da edificações entre si, juntamente com tudo que nele estiver contido que se compõem pelos recursos financeiros, humanos, naturais, arquitetônicos, tecnológicos e de informação. Tudo isso requer tempo de qualidade e liderança de pessoas para garantir uma moradia ou ambiente de trabalho seguro, saudável e sossegado.

Condomínios, são compostos por pessoas de diferentes origens, formações e entendimentos de uma vida coletiva.

Se compreendermos os condomínios contemporâneos, quer seja residencial, comercial ou misto, como um sistema hipercomplexo, teremos a dimensão da necessidade do desenvolvimento das habilidades comportamentais e sociais dos indivíduos e dos grupos de pessoas ali existentes.

Quando se compreende que o condomínio é um ambiente repleto por pessoas que se comportam com suas emoções, muitas vezes “não domesticadas”, afinal, é no ambiente caseiro que as máscaras profissionais e sociais são retiradas e muitos comportamentos, antes mascarados com o verniz da sociabilidade, são expostos de maneira individualista, rude ou grosseira, extrapolando o espaço da unidade privativa, o que o torna um desafio de convivência pacífica para a massa condominial e para o representante legal.  Portanto, o síndico deve estar pronto para fazer a gestão com reconhecimento dos componentes socioemocionais existentes em seus integrantes e no ambiente para ter uma liderança humanizadora.

AMADORISMO E IMPROVISOS, NÃO PODEM FAZER PARTE DA GESTÃO DOS SÍNDICOS CONTEMPORÂNEOS!

Gestão Humanizada

A gestão condominial humanizada é uma abordagem que contribui para aumentar a eficácia de um mandato e transformar a vida em condomínios. É preciso estar disposto a reconhecer esse espaço de moradia como espaço político e compreender que este é um ambiente repleto de emoções, uma vez que, não se pode “eliminar” o componente emocional para lidar somente com as diretrizes administrativas, financeiras, regimentares e processuais.

Nos tempos atuais, existe uma busca permanente por um candidato ao cargo de síndico que esteja preparado e qualificado para exercer um mandato com maestria, seja ele como proprietário voluntário ou como profissional terceirizado, o chamado “síndico profissional”.

Ao exercer um mandato de gestão, o síndico precisa ter competências requeridas ao cargo, uma vez que o gerenciamento das rotinas no dia a dia condominial, ocorre por intermédio de outros. Sendo assim, as habilidades interpessoais, de liderança e comunicação estratégica configuram requisitos importantes para a eficácia da gestão condominial.

Ressalta-se que as tecnologias e os dispositivos organizacionais da gestão condominial não funcionam sozinhos – sua eficácia é fortemente influenciada pela qualidade do fator humano e da dinâmica das relações que se estabelece entre o síndico, subsíndico, os conselhos, trabalhadores e moradores do condomínio.

 

Conceito

O conceito de gestão humanizada surgiu como abordagem estratégica na administração moderna, já que por muitos anos, o indivíduo era inserido nas empresas ou órgãos públicos e era pressionado a deixar de ser quem era para se tornar o que a empresa queria que ele fosse, um trabalhador com postura de neutralidade, com separação dos seus aspectos emocionais, do fazer técnico-operacional e, diante desse contexto, o indivíduo perdia sua identidade, tornando-se mecanicista.

A abordagem humanista tem como premissa o indivíduo na centralidade da produção e busca a readaptação dos processos produtivos alinhados às necessidades das pessoas envolvidas, de forma que a produtividade desejada conviva harmoniosamente com o bem-estar e a satisfação dos trabalhadores e clientes. Entende-se que, quando a empresa possui líderes qualificados e trabalhadores satisfeitos, sua força produtiva é mais engajada e consequentemente mais lucrativa, estabelecendo um elo de confiabilidade junto ao mercado e à sua carteira de clientes.

Na Humanização, não há neutralidade, as tomadas de decisões devem estar congruentes com os interesses da coletividade. As políticas e procedimentos desenhados e aprovados devem ser amplamente disseminados e cumpridos, as avaliações periódicas de como está o treinamento da equipe, a relação com as partes interessadas devem ser monitoradas, o que requer utilização de técnicas e ferramentas gerenciais que garantam a transparência, o respeito, a democracia e a isonomia nas decisões. O síndico precisa ser líder servidor, compreender que existe uma individualidade que transforma cada sujeito como pessoa singular, reconhecer a existência de forças de poder que, muitas vezes, terão interesses opostos aos interesses do condomínio e, entre seus maiores desafios, estará a necessidade de estabelecer equidade nas ações e processos estabelecidos naquela comunidade condominial e saber gerenciar os conflitos ali estabelecidos.

Ser um síndico humanista é cuidar de pessoas e decidir atuar com novos olhares para compreender o contraditório e assumir riscos!

O síndico ao adotar uma postura humanizada nos condomínios, vai além de buscar uma prática social de interação fraternal nos eventos festivos e campanhas solidárias. Ele precisa abarcar múltiplos atributos para garantir a funcionalidade do ambiente, independente da sua presença diária,  por meio da integração das pessoas, dos locais, dos processos estabelecidos e da tecnologia existente, ou seja, deve ser um líder com um conjunto de competências que favoreça uma atuação sistêmica, dinâmica, abrangente, agregadora e com ênfase nas pessoas, o que corrobora com a transformação da mentalidade dos indivíduos afetados, que acabam interagindo e sofrendo influência do meio condominial, tornando possível a promoção de atitudes comportamentais de um ambiente pacificado com mais tolerância, empatia, compreensão e busca de soluções mediadas para a superação dos problemas coletivos que afetam a vida em condomínios.

Por fim, ao se desejar um condomínio humanizado, é preciso ter em mente que esse é um processo de transformação social, uma mudança de longo prazo, precisa de tempo para maturar… tem início, mas não termina quando finda o mandato de um síndico, pois, requer um comprometimento coletivo para consolidar processos baseados em valores e princípios de humanidade. E, uma vez implantada a humanização, os condomínios devem buscar sucessores com capacidade e vontade de percorrer o caminho da humanidade, pois certamente, exercer a sindicatura é estar afinado com o propósito da pacificação social, e isso, é possível através de uma liderança servidora, seja ela profissional ou voluntária!

Elisabeth França
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Elisabeth França

Especialista em Gestão de Condomínios Clube, Assistente Social e Administradora Hospitalar com mais de três décadas de atuação na gestão pública na área da Saúde. Mentora de Síndicos e Coach de Carreiras e Produtividade. Sócia diretora da EFRAN Treinamento e Desenvolvimento Profissional.

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