Ambientes mais seguros e com mais comodidade para o dia a dia dos moradores. Essa é a principal proposta dos novos condomínios que surgem nos principais centros urbanos. Nesse “boom” condominial, existe uma parcela da população habitacional que merece atenção: o grupo da terceira idade.
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IGBE), a participação relativa da população com 65 anos ou mais, que era de 4,8% em 1991, passou a 5,9% em 2000 e chegou a 7,4% em 2010 e, de lá pra cá, ficou ainda mais nítido o número de idosos que moram sozinhos ou que necessitam de algum tipo de apoio assistencial em edifícios. Daí a importância de saber quais os cuidados que síndicos, funcionários e moradores devem ter com essa parcela numerosa da população.
Quadro em SC
Santa Catarina lidera o ranking da longevidade no Brasil, com média de tempo de vida de 79,7 anos, enquanto que a do Brasil é de 76,3 anos. Segundo a terapeuta ocupacional e presidente da Associação Brasileira de Alzheimer – ABRAz de SC, Scarlet Murara, assim como tem sido expressivo o aumento do número de idosos, os casos de quadro de demência também têm crescido, sendo que na opinião da profissional de saúde mental, a maior parte dos condomínios catarinenses não está preparada para lidar com moradores com sintomas de uma doença neurodegenerativa. “Atualmente são poucos os síndicos e estruturas que pensam em estratégias de segurança e arquitetura dos prédios para moradores da melhor idade com doenças como Alzheimer, por exemplo”, afirma.
Para Odirley Rocha, que é especialista em segurança e futuro condominial e defensor da inclusão dentro do conceito de sociedade 5.0, pensar em propostas de qualidade de vida para a melhor idade é uma forma de aprimorar a convivência de todos. “A sociedade 5.0 se constrói em três pilares – sustentabilidade, qualidade de vida e inclusão, isso inclui as crianças, os animais e, principalmente, as pessoas da melhor idade”, explica.
Medidas para o dia a dia
Segundo estudos da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de SP, 40% dos brasileiros com mais de 65 anos precisam de algum tipo de ajuda para realizar tarefas do cotidiano. Para saber identificar as necessidades de uma pessoa idosa, é imprescindível entender o processo de envelhecimento e suas limitações, sendo que os condomínios podem e devem se adequar.
A questão da acessibilidade na arquitetura do prédio e das áreas comuns é um requisito fundamental a ser observado, já que as instalações devem seguir os padrões de segurança para idosos bem como para os portadores de necessidades especiais. O condomínio deve incluir acesso em rampas e elevadores, instalação de corrimãos e pisos antiderrapantes para a prevenção e auxílio na locomoção, além de letreiros de identificação em letras maiúsculas e fonte legível com iluminação adequada.
Odirley acredita que envolver o grupo da terceira idade a partir das atividades do condomínio também é uma ótima forma de acolhimento, já que abre um leque de possibilidades ao dar mais autonomia, confiança e segurança ao idoso. “Quando instalamos, por exemplo, um sistema de portaria remota no edifício e vamos mostrar para alguém da melhor idade, pode ser que essa pessoa leve um pouquinho mais de tempo para aprender como funciona e para que serve, mas ela fica atenta ao que está sendo ensinado. Quando ela aprender, ela não vai mais esquecer, vai gravar tudo e vai se tornar adepta do recurso. Essa pessoa vai se sentir incluída e vai ter orgulho de estar acompanhando tudo pelas câmeras”, diz.
Na visão de Odirley, que também é diretor de uma empresa voltada para segurança condominial, os idosos estão cada vez mais atentos à tecnologia. “Principalmente após esse período de pandemia. Quem não tem um avô, pai ou tio que passou a participar mais ativamente do grupo de WhatsApp da família ou que faz com frequência uma videochamada para saber das novidades?”, avalia.
Apoio e assistência
Ter empatia e realizar um acolhimento de acordo com a personalidade do idoso é fundamental para facilitar a convivência, tanto para familiares quanto para os outros moradores. “No caso da doença de Alzheimer, que se configura por alterações comportamentais, como agressividade, ansiedade, depressão, não conseguir reconhecer mais os ambientes compartilhados do prédio e até mesmo a própria residência, é importante que haja ciência, apoio e colaboração de todos que ali convivem”, pondera Scarlet.
Algumas estratégias sugeridas pela terapeuta Scarlet Murara para idosos com doenças degenerativas:
1. Informar ao síndico que o familiar está apresentando alterações comportamentais, de provável demência e que este está sendo acompanhado clinicamente.
2. Ter a colaboração de outros moradores para acolhimento diante do idoso demenciado. Desta forma todos vão poder ajudar os familiares responsáveis caso aconteça alguma fatalidade.
3. Estabelecer que o idoso só sairá do condomínio com a autorização do responsável por ele. Isso se o estabelecimento tiver o serviço de portaria, o que facilita para o idoso não se perder caso já apresente uma grande alteração espacial, que pode deixá-lo desnorteado por não saber como voltar para casa e onde ele está. Caso o residencial não tenha o serviço de portaria, investir em estratégias de segurança pelos espaços compartilhados como piscina, garagem, academia e de portaria com biometria ou uso de tags.
4. Utilizar placas informativas para o idoso saber o andar ou a casa onde ele reside. O uso de imagens pode ajudar na manutenção das suas capacidades espaciais relacionadas aos ambientes.
5. Capacitar colaboradores para saber como abordar um morador quando ele estiver perdido pelos ambientes do condomínio.
Para a presidente da ABRAz SC, se colocar no lugar do outro é fundamental. “Temos que entender que um dia também seremos idosos e gostaríamos de ser respeitados diante das nossas limitações, sejam elas mentais, físicas ou socioeconômicas”, conclui o alerta.
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