Já parou para pensar que você é o outro do outro?
Em tempos de tantas manifestações de opinião, de influencers com suas conexões e cancelamentos, de polarização, de diversidade e escalada de conflito, acredito que trazer essa reflexão sobre a dupla “eu e o outro” pode contribuir para a qualidade dos relacionamentos de vizinhança nos condomínios.
Não consigo aprofundar aqui conceitos como intersubjetividade, identidade e tantos outros que nos ajudam a compreender que somos muito mais que a soma de nossas experiências relacionais (conosco mesmo e com o outro), mas quero trazer uma noção sobre o que seja a outridade, termo tão bem explicado pelo saudoso Prof. Warat, como o espaço entre um e outro.
Assim, estar com o outro, nos mais diferentes contextos de relacionamento, é nossa grande experiência de encontro. Saber como queremos ser tratados e ter interesse em saber como o outro espera ser tratado pode significar um encontro agradável, que nos eleva e eleva o outro ou um desagrado recíproco.
Dê atenção a três atitudes para favorecer bons encontros e conversas colaborativas, sempre com a consciência de que você é o outro do outro:

“Quando nos referimos à outridade ou ao entre-nós, começamos a falar de uma moral de amor (baseada na qualidade de vida e na busca de relações satisfatórias) e de um replantio dos direitos do homem (como direitos da alteridade ou da outridade), que são mais íntimos que jurídicos, e que exigem uma libertação nas relações intersubjetivas, que vão marcando e aclarando os laços invisíveis, impalpáveis do estar-para-o-outro em busca da saída para o novo, para a solidariedade, e para o compartilhar a qualidade de vida...” (WARAT, 2001, p. 200)
WARAT, Luiz Alberto. O ofício do mediador. Florianópolis: Habitus, 2001
Ética – Eu não sou você, você não é eu.
Mas somos o outro um do outro. E isso nos torna responsáveis e solidários pela experiência de cada um nesse encontro. Como no poema de Ferreira Gullar, “uma parte de mim é permanente; outra parte se sabe de repente”. Aprendemos sempre. Quando dois se encontram, ambos estão diante da humanidade comum e isso exige de cada um a reverência, a disponibilidade de estar com e para o outro.
Escutar – Escutar para compreender entendendo.
Escutar não é apenas ouvir o que a outra pessoa está dizendo, mas procurar captar as mensagens latentes, a historicidade e o lugar de experiência do outro, identificando o tom e o conteúdo do que está sendo dito. Uma escuta genuína aumenta a confiança e o respeito. O que quer dizer com o que diz? Isso é se interessar e se esforçar para silenciar a sua mente enquanto escuta o outro sem julgar. Pratique a “escutatória” como nos ensina Rubem Alves.
Perguntar
Quando dirigimos uma pergunta para o outro, damos a ele a oportunidade de se expressar e ser escutado. Então, perguntar engrandece o outro e nos conecta. As perguntas são bússolas que nos ajudam a compreender melhor o que outro está a nos dizer. Você pode utilizar perguntas abertas para estimular o outro a explicar mais suas necessidades e sentimentos em relação ao que está sendo tratado.
Desejo que tenha bons encontros e boas conversas em seu condomínio!
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