Segurança Condominial entre Portões, dados e consciência
Mais do que câmeras e portarias, proteger um condomínio é hoje um exercício de inteligência, inovação e responsabilidade coletiva. Seis especialistas apontam os caminhos.
Muros altos, câmeras vigilantes, portarias digitalizadas. Tudo isso ainda compõe a paisagem da segurança condominial, mas já não basta. Na era da hiperconectividade, dos dados sensíveis e das demandas sociais crescentes, garantir a segurança dos moradores é uma tarefa que vai além da tecnologia. Requer estratégia, sensibilidade, preparo técnico e, acima de tudo, engajamento comunitário. A edição de capa da Revista Domus mergulha nessa nova arquitetura da proteção condominial, ouvindo seis especialistas que, cada um à sua maneira, ajudam a iluminar esse território em transformação.
Alex Canal, advogado e especialista em segurança empresarial, chama atenção para os riscos ocultos no tratamento de dados pessoais. Em um cenário onde a Lei Geral de Proteção de Dados já impõe deveres claros aos condomínios, ele defende que a gestão da informação é hoje um dos pilares da segurança — e que negligenciá-la pode custar caro.
João Tavares, executivo da Porter, apresenta a revolução da portaria remota como um divisor de águas. Para ele, mais do que reduzir custos, esse modelo representa uma mudança de mentalidade: exige planejamento, tecnologia confiável e, principalmente, comunicação clara com os moradores.
Vagner Berns Camilo, sócio da Active Segurança Eletrônica e diretor do SIESE-SC, aposta na inteligência artificial, na integração de sistemas e na responsabilidade técnica como vetores para uma segurança realmente eficiente. Ele alerta para o amadorismo e o improviso ainda presentes em muitos projetos, e propõe uma abordagem mais profissional e estratégica.
Vagner Onesko, gestor do Grupo FT, reforça que segurança não precisa ser sinônimo de alto custo. Sua experiência mostra que planejamento, escolha criteriosa de soluções e capacitação da equipe podem gerar eficiência sem estourar o orçamento.
A delegada Tânia Cristina Duarte Harada, com quase duas décadas de experiência policial, traz um olhar sensível e necessário: os desafios sociais que se impõem aos síndicos, como a violência doméstica e os conflitos interpessoais. Ela defende que o síndico bem preparado pode, sim, ser um elo de proteção em casos de vulnerabilidade.
Por fim, Wagner Giovani Silva, CEO da Hubix, nos leva a um futuro já em curso. Ele fala sobre cidades inteligentes, biometria comportamental, inteligência artificial e integração de dados, e convida síndicos e administradoras a pensarem a segurança como parte de um ecossistema digital mais amplo.
Nesta edição, a Domus revela o que há de mais atual e necessário na segurança condominial. É tempo de romper com o improviso, abraçar a inteligência — e construir espaços mais seguros, humanos e preparados para o amanhã.

DESAFIOS DA
PROTEÇÃO DE DADOS
Por trás dos muros altos e sistemas tecnológicos de última geração, a verdadeira segurança condominial se ancora em algo mais sutil e profundo: a conscientização de cada morador. Essa é a reflexão de Alex Canal, advogado especialista em segurança empresarial, presidente do Núcleo de Inteligência e Segurança Empresarial (NISE) da ACIJ e Corporate Security Senior Manager na NIDEC, que atua na linha de frente da proteção patrimonial e digital.
Alex alerta que, no cenário atual, investir em barreiras físicas ou tecnologias de ponta não é suficiente. A fragilidade humana ainda representa o maior desafio. “A resistência de um condomínio é medida pelo seu elo mais fraco”, compara. Um sistema de reconhecimento facial de última geração pode falhar se um morador deixar a porta entreaberta por distração. Daí a importância de consolidar uma Cultura de Segurança, alicerçada em educação contínua, comunicação eficaz e senso de responsabilidade coletiva. No campo da proteção de dados, a situação é igualmente crítica. Desde a promulgação da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) em 2018, o ambiente condominial passou a exigir novos padrões de gestão e cautela. Alex avalia que, embora síndicos e administradoras estejam mais atentos, ainda há vasto espaço para aprimoramento.

“É essencial que os contratos com empresas de segurança e prestadores de serviço prevejam cláusulas específicas sobre proteção de dados”, enfatiza, citando como exemplo o uso crescente de sistemas de biometria e reconhecimento facial, tecnologias que, ao mesmo tempo em que ampliam a segurança física, impõem uma gestão rigorosa das informações armazenadas.
Os erros mais comuns na gestão da segurança, segundo ele, dividem-se em três frentes: falhas humanas, estruturais e tecnológicas. Porteiros desatentos, moradores que negligenciam protocolos, manutenção deficiente de equipamentos e câmeras ineficazes são alguns dos pontos críticos. “A ausência de treinamento e a falta de um plano de manutenção preventiva criam brechas que comprometem toda a estrutura de proteção”, adverte.
A implantação de novas tecnologias, como câmeras de vigilância e sistemas de controle de acesso, traz também o desafio de preservar a privacidade dos moradores. Para Alex, a chave está em um Plano de Segurança bem elaborado, capaz de equilibrar proteção e respeito aos direitos individuais. Comunicação clara e permanente sobre as normas internas reforça essa convivência saudável.
A eventual falha na proteção de dados, no entanto, não é apenas um risco reputacional; é uma ameaça jurídica concreta. Vazamentos podem resultar em multas milionárias — de até 2% do faturamento anual do condomínio, limitadas a R$ 50 milhões por infração — além de processos civis por danos materiais e morais. “O síndico pode, inclusive, ser responsabilizado pessoalmente se houver negligência”, adverte Alex.
A colaboração entre condomínios e autoridades públicas emerge como estratégia essencial para fortalecer a segurança. Programas como a Rede de Vizinhos da Polícia Militar de Santa Catarina, destaca ele, exemplificam a importância de uma aproximação proativa entre a comunidade e as forças de segurança.
Por fim, Alex Canal insiste na construção de uma cultura sólida de segurança. “Regras claras, treinamentos periódicos, integração de novos moradores e a criação de comissões permanentes são fundamentais”, afirma. A segurança, reitera, não pode ser encarada como um serviço terceirizado: ela é, acima de tudo, responsabilidade compartilhada. “Engajamento é a palavra-chave. Segurança é responsabilidade de todos”, conclui
A REVOLUÇÃO
DA PORTARIA REMOTA
Com 20 anos de experiência na interseção entre tecnologia da informação e segurança eletrônica, João Tavares lidera o time técnico da Porter, empresa referência em soluções de portaria remota e controle de acesso. Em entrevista exclusiva, ele compartilhou insights sobre as inovações que estão moldando o futuro dos condomínios e a adaptação das tecnologias às especificidades de cada edificação.
A customização das soluções de portaria remota da Porter não é apenas uma estratégia de mercado, mas um compromisso com a eficiência. “Antes de implementarmos qualquer solução, realizamos um diagnóstico técnico e operacional completo”, explica João. A análise minuciosa da infraestrutura, do perfil dos moradores e das particularidades de cada condomínio permite que a Porter configure seus sistemas para atender às necessidades específicas de cada local. A busca é por uma harmonia entre a tecnologia e a rotina do empreendimento, assegurando que o serviço seja eficaz, sem excessos ou falhas.
A Porter não só acompanha as tendências tecnológicas, mas lidera sua incorporação.

Com o uso da Internet das Coisas (IoT) e inteligência artificial, os sistemas de portaria remota ganham em agilidade e segurança. Sensores conectados em tempo real monitoram o fluxo de pessoas e o comportamento nos acessos, enquanto a IA permite identificar padrões e antecipar riscos. “A inteligência artificial otimiza o atendimento remoto, reduzindo falhas e melhorando a assertividade nas liberações de acesso”, comenta Tavares.
A inovação não para por aí: os módulos inteligentes da Porter conseguem realizar tarefas como desligar equipamentos de forma autônoma ou emitir alertas, criando um ambiente proativo de segurança. Tais tecnologias, além de mais eficazes, são mais econômicas, já que reduzem a necessidade de intervenção humana constante.
Ao migrar de sistemas tradicionais para portarias remotas, muitos condomínios enfrentam desafios culturais e técnicos. A mudança de mentalidade entre os moradores, acostumados ao atendimento presencial, é um dos obstáculos mais comuns. “A resistência inicial é natural, mas a experiência mostra que, com o tempo, os condôminos percebem os benefícios, como a maior segurança e a redução de custos”, afirma Tavares. O processo de transição é acompanhado de perto, com treinamento contínuo para síndicos e funcionários e suporte personalizado para os moradores.
A adaptação à tecnologia, que pode ser desafiadora para alguns, é facilitada pela simplicidade e intuitividade dos sistemas, projetados para serem acessíveis, mesmo para os usuários com menor familiaridade tecnológica. Além disso, com o crescimento das compras online, a gestão de entregas tornou-se um desafio significativo para os condomínios. A Porter, atenta a essa necessidade, desenvolveu o Armário Inteligente, que permite o armazenamento seguro de encomendas, acessíveis pelos moradores via QR Code. Recentemente, a empresa lançou o Porter Entregas, que elimina a necessidade de intermediários ou da presença do morador no momento da entrega, aumentando ainda mais a segurança e a autonomia do processo.
Para Tavares, o futuro da segurança condominial está inexoravelmente ligado à automação e à integração entre diferentes tecnologias. Ele aponta que a inteligência artificial continuará a se expandir, especialmente em áreas como prevenção de riscos e automação de rotinas operacionais. Além disso, a recente fusão da Porter com a Almah, desenvolvedora de soluções em gestão condominial, reflete essa visão de um ecossistema integrado, onde a tecnologia conecta moradores, administradoras e sistemas de segurança de maneira fluida e eficiente.
A visão de Tavares para o futuro da segurança condominial não é apenas de inovação técnica, mas de um novo conceito de convivência. “A Porter está preparando suas soluções para que a experiência do condomínio seja mais segura, mais eficiente e mais conectada. E tudo isso, com um único objetivo: oferecer uma segurança inteligente e sustentável, sem perder de vista as necessidades e a convivência dos moradores.”
Em um mercado cada vez mais exigente, a Porter não apenas acompanha as transformações, mas as lidera, oferecendo soluções que trazem mais segurança, conforto e sustentabilidade para os condomínios do futuro.
PROTEÇÃO SEM
EXAGERAR NOS CUSTOS
Com 18 anos de experiência em segurança privada e à frente da gestão corporativa do Grupo FT, Vagner Onesko conhece bem os bastidores da proteção condominial. Para ele, o maior erro dos condomínios não está na falta de tecnologia ou de recursos humanos, mas sim na ausência de procedimentos claros e na pouca participação dos moradores. “É comum ver sistemas avançados e portarias bem equipadas, mas sem regras bem definidas e com condôminos despreparados, toda essa estrutura pode ruir com um simples descuido”, alerta.
O Grupo FT oferece consultorias especializadas e, segundo Onesko, todo plano de segurança deve começar por uma análise minuciosa do ambiente: “Cada condomínio é um ecossistema próprio. É preciso considerar o número de unidades, os acessos, a rotina dos usuários e, claro, as vulnerabilidades estruturais”, explica. E ele complementa: “A segurança nunca será absoluta, mas pode ser eficaz e isso depende de camadas.”Camadas, neste caso, é a palavra-chave. O gestor reforça que a integração de tecnologias, como controle de acesso, portaria remota e videomonitoramento, eleva o nível de proteção.

No entanto, faz um alerta importante: “Tecnologia sozinha não detém invasões. Há situações em que a resposta precisa ser imediata. E só a presença física, com vigilância bem treinada, é capaz de reagir a tempo.” A redução de custos tem levado muitos condomínios a eliminar postos de vigilância. Para Onesko, esse movimento é compreensível, mas exige compensações. “Quando não há recursos para manter vigilância 24h, o investimento deve ser feito em barreiras físicas, detecção precoce e, sobretudo, em empresas com resposta tática rápida. É uma questão de inteligência operacional.”
Na prática, a central de monitoramento do Grupo FT cumpre esse papel. Operando 24 horas, com profissionais especializados no perfil condominial, ela se torna um elo estratégico entre a tecnologia e a ação rápida. “Não basta detectar. É preciso agir com precisão e conhecer os protocolos específicos de cada condomínio”, defende.
Questionado sobre os riscos das tecnologias mal implementadas, como fechaduras eletrônicas ou biometria, Onesko é direto: “O barato pode sair caro. Muitos sistemas são implantados sem estudo de continuidade e acabam obsoletos em poucos anos. Além disso, falhas em leitura biométrica ou clonagem de sinal ainda são riscos reais. É preciso dimensionamento técnico criterioso.” A boa segurança condominial, diz ele, não está apenas nos equipamentos, mas em rotinas e cultura. Atualizações cadastrais, manutenção preventiva, monitoramento redundante e treinamento contínuo são ações básicas. “Não há solução milagrosa. Mas há método, planejamento e decisões certas”, conclui Onesko, com a serenidade de quem entende que segurança é, antes de tudo, um pacto coletivo.
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL,
INTEGRAÇÃO E RESPONSABILIDADE TÉCNICA
A revolução da segurança condominial já está em curso — e não se trata apenas de câmeras e portões automáticos. “Hoje, as câmeras deixaram de ser apenas olhos para se tornarem cérebros”, afirma Vagner Berns Camilo, especialista que atua desde 1998 no setor e é fundador da Active Segurança Eletrônica, empresa com mais de 400 condomínios atendidos em oito estados do Brasil.
Camilo observa que a transformação mais notável da última década se deu pela convergência tecnológica. Sistemas antes isolados deram lugar a redes integradas de controle de acesso, monitoramento remoto e reconhecimento facial. “A automação e a conectividade tornaram a segurança mais eficiente e acessível”, diz.
Na Active, tecnologias emergentes já moldam a rotina de síndicos e moradores. Uma delas é a Análise de Vídeo com IA, capaz de identificar comportamentos suspeitos em tempo real. “A câmera, antes reativa, agora antecipa ações criminosas. Essa mudança de paradigma transforma o papel da vigilância”, revela. Outro avanço é o controle de acesso remoto, que dispensa porteiros em tempo integral.

Softwares como o Gestão de Acesso Active permitem atender visitantes pelo celular, liberar entradas com hora marcada e visualizar câmeras ao vivo. Tudo com criptografia e autenticação segura. Mas os desafios permanecem. A integração de sistemas em condomínios mais antigos, por exemplo, esbarra em estruturas físicas limitadas e tecnologias defasadas. “Muitas construtoras ainda ignoram a segurança já na planta. Por isso, prestamos assessoria técnica antes mesmo do prédio subir”, explica.
Na era digital, os riscos não vêm apenas do lado de fora. Camilo destaca que a clonagem de controles remotos e tags é um dos ataques cibernéticos mais comuns hoje. “Equipamentos simples, comprados online, permitem copiar sinais à distância. Em poucos segundos, o criminoso acessa o prédio sem levantar suspeitas”, aponta. A resposta? Investimento em infraestrutura de fibra óptica, redes isoladas da internet residencial, softwares atualizados e autenticação por biometria. “Também é crucial limitar o número de administradores com acesso aos sistemas e manter registros de atividades.”
À frente da diretoria de marketing do SIESE-SC, sindicato patronal do setor, Vagner também defende a regulamentação rígida das empresas. Ele alerta: “Muitas atuam sem responsável técnico, como exige a Lei Federal 5.194. Isso expõe condomínios a falhas graves e riscos jurídicos.” A recente publicação do novo Estatuto da Segurança Privada é vista por ele como um avanço importante, mas insuficiente sem fiscalização e educação. “É preciso treinar síndicos e gestores. A tecnologia sozinha não protege ninguém. É o fator humano que garante a eficácia do sistema”. Camilo finaliza com um apelo à responsabilidade. “As empresas de segurança são guardiãs da privacidade dos moradores. Trabalhamos com dados sensíveis e a conformidade com a LGPD é mais do que obrigação, é respeito”. Na encruzilhada entre o analógico e o digital, o especialista não tem dúvidas: o futuro da segurança condominial será automatizado, inteligente e, acima de tudo, ético.
DESAFIOS SOCIAIS
E CRIMINALIDADE
Na segurança condominial, a proteção patrimonial é apenas a ponta do iceberg. Por trás das portas fechadas dos apartamentos e dos muros das edificações, escondem-se diversas dinâmicas sociais que, muitas vezes, não são percebidas nem pelos moradores nem pelos administradores. A violência doméstica, os maus-tratos contra crianças e idosos, e até mesmo os crimes ambientais são questões que se entrelaçam com a segurança dos condomínios, mas frequentemente ficam à margem das discussões de vigilância e controle de acesso. Para a delegada Tânia Cristina Duarte Harada, especialista em crimes contra vulneráveis, é essencial que o olhar da segurança se amplie para além do patrimonial.
Com 18 anos de carreira na Polícia Civil de Santa Catarina e experiência tanto no Ministério Público quanto no combate à violência doméstica e infantil, Harada acredita que os síndicos e as administradoras têm um papel crucial na identificação de situações de abuso e na criação de um ambiente mais seguro para todos. Segundo ela, o maior obstáculo é a invisibilidade de certos tipos de violência, como os abusos silenciosos que ocorrem dentro dos apartamentos, longe dos olhos da sociedade.Em sua experiência, a delegada aponta que a violência doméstica é uma das formas mais comuns de agressão silenciosa dentro de condomínios. Situações em que mulheres, crianças ou idosos estão sendo abusados, mas não conseguem pedir ajuda, frequentemente passam despercebidas pelos vizinhos.

“É fundamental que os síndicos e moradores estejam atentos aos sinais de violência, como gritos, ferimentos recorrentes ou comportamentos estranhos nos moradores”, afirma Harada. Ela enfatiza que a denúncia é um dever moral, e que canais como o 180 (violência doméstica) ou o Disque 100 (crimes contra crianças e adolescentes) devem ser amplamente divulgados nos condomínios.
O aspecto mais desafiador dessa abordagem, para a delegada, é a construção de uma rede de apoio que permita que vítimas de violência encontrem amparo sem o risco de represálias. Em casos de violência doméstica, por exemplo, não é necessário que a vítima concorde com a intervenção policial, o que facilita a ação das autoridades, mas não elimina o risco de retaliação.
No entanto, a delegada destaca que os síndicos também têm a obrigação de agir preventivamente. Para ela, o fornecimento de elementos cruciais para investigações, como imagens de câmeras de segurança e prontidão no compartilhamento de informações com as autoridades, é uma medida eficaz na prevenção de crimes. “A celeridade no fornecimento de dados de câmeras de segurança pode ser a chave para evitar a reincidência de delitos”, argumenta Harada. Ela acrescenta que a qualidade das imagens também é crucial para a resolução de casos. Muitas vezes, imagens de baixa resolução dificultam a identificação de criminosos e tornam mais difícil o esclarecimento dos fatos.
Outro ponto importante abordado pela delegada é a colaboração entre a administração do condomínio e as forças de segurança pública. Harada sugere que síndicos e representantes de condomínios estabeleçam um estreitamento de relacionamento com a polícia local, criando canais diretos de comunicação para facilitar a resposta rápida em casos de emergência. Além disso, ela destaca a importância de se investir em tecnologia de ponta para aumentar a eficácia da segurança, como sistemas de monitoramento que contemplem áreas-chave e permitam a resposta imediata das autoridades.
A delegada também chama a atenção para os crimes ambientais, que raramente recebem a devida atenção no contexto de segurança condominial. De acordo com a Lei 9.605/1998, os condomínios podem ser responsabilizados por ações criminosas, como a destruição de vegetação nativa sem autorização, e até pela omissão em casos de maus-tratos a animais. “Em Joinville, por exemplo, a legislação municipal exige que os síndicos comuniquem qualquer suspeita de maus-tratos a animais, o que reforça o papel dos condomínios na preservação da ética e do bem-estar dentro de suas estruturas”, explica Harada.
Com relação ao uso de tecnologias emergentes, como a portaria remota e as câmeras inteligentes, Harada ressalta a necessidade de um equilíbrio entre segurança e privacidade. A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) deve ser observada de perto, com o cuidado de não expor indevidamente imagens ou dados pessoais. Ela lembra que a exposição excessiva de informações, especialmente quando a suspeita de crime não é confirmada, pode acarretar responsabilização ao condomínio. A delegada aponta que as imagens coletadas devem ser tratadas com discrição e compartilhadas apenas com as autoridades competentes, garantindo a integridade da investigação e a proteção dos direitos dos moradores.
Harada também reforça que a violência doméstica não é um problema exclusivamente policial, mas também social e cultural. Nesse sentido, ela sugere que, além da repressão, deve-se investir na conscientização dos moradores sobre questões como assédio, misoginia e violência psicológica, principalmente em ambientes virtuais, como grupos de WhatsApp. O síndico deve ser vigilante não apenas no espaço físico, mas também na construção de um ambiente digital respeitoso e seguro.
Por fim, a delegada acredita que a segurança em condomínios só será efetiva se houver uma verdadeira parceria entre moradores, síndicos e autoridades. Para ela, a participação ativa da comunidade nas decisões sobre segurança, o engajamento nos sistemas de monitoramento e a capacitação dos gestores para a identificação precoce de sinais de violência são fundamentais para construir um ambiente verdadeiramente seguro e acolhedor. “Quando a comunidade se une, a segurança não é apenas uma questão de vigilância, mas um reflexo de solidariedade e responsabilidade coletiva”, conclui Harada, destacando a importância da integração entre os diversos atores sociais e a segurança pública.
A NOVA ERA
DA SEGURANÇA CONDOMINIAL
A segurança dos condomínios, outrora limitada ao portão de ferro e ao olhar atento do vigilante, hoje se reconstrói sob a lógica dos algoritmos. Wagner Giovani Silva, um dos principais nomes da inovação tecnológica em Santa Catarina, é testemunha e protagonista dessa transformação. Com uma trajetória marcada pela liderança em ecossistemas de startups e conselhos de tecnologia, Wagner oferece uma leitura lúcida do presente e do futuro da segurança condominial no Brasil.
“O setor deixou de ser reativo e passou a adotar uma abordagem mais preditiva e integrada”, afirma o executivo, que vê na convergência entre hardware inteligente e softwares analíticos o grande salto da última década. Portarias remotas, reconhecimento facial, sensores IoT e câmeras com inteligência artificial já não são mais promessas futuristas, são ferramentas presentes, moldando um novo ecossistema de proteção. Wagner destaca a chegada de soluções emergentes como a biometria comportamental e os algoritmos de machine learning aplicados à detecção de padrões incomuns. Com a consolidação do 5G e a maturidade das redes de Internet das Coisas (IoT), o especialista prevê para 2025 uma nova geração de dispositivos interconectados e em tempo real, incluindo até cães-robôs, como o SingDog, que são capazes de patrulhar com precisão autônoma.

Mas a inovação, ressalta Wagner, não pode ser dissociada da responsabilidade. A crescente interconectividade dos sistemas traz consigo novos riscos, sobretudo no campo da segurança digital. “A maioria dos condomínios ainda não está preparada para lidar com incidentes cibernéticos”, alerta. Senhas fracas, dispositivos desatualizados, ausência de políticas de backup e redes vulneráveis são apenas algumas das brechas exploradas por criminosos digitais. A solução, segundo ele, passa por um tripé essencial: educação digital, governança de dados e planejamento estratégico. “Com a LGPD, é essencial pensar em privacy by design. A tecnologia deve garantir segurança sem ser invasiva, operando com anonimização de dados e acesso segmentado.” Além disso, recomenda práticas como autenticação multifator, auditorias periódicas, redes segmentadas e fornecedores com protocolos reconhecidos.
Wagner também enxerga uma ponte crescente entre segurança condominial e as cidades inteligentes. Joinville, sua base de atuação, recebeu o selo bronze do Connected Smart Cities e serve de exemplo na integração entre segurança privada e infraestrutura urbana. “A tendência é vermos condomínios se tornando micro hubs de dados, colaborando com centros urbanos para elevar o padrão coletivo de segurança.”
O que desponta no horizonte, portanto, é uma mudança de paradigma. Os condomínios que antes operavam em isolamento hoje se conectam a ecossistemas mais amplos, onde segurança física, digital e até energética dialogam num mesmo painel de controle. “Estamos entrando na era das centrais de inteligência condominial”, afirma, ao citar plataformas unificadas que integram da portaria ao consumo de energia, passando pela mobilidade dos moradores. No final das contas, Wagner Giovani Silva propõe mais do que um avanço tecnológico: sugere uma transformação cultural. Um convite à mentalidade preventiva, ao planejamento participativo e à segurança como pilar da vida em comunidade. Uma nova arquitetura da convivência, desenhada por sensores, mas sustentada por confiança, dados e inteligência.
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